Sobre como a “velha política” pode salvar o governo Bolsonaro: por Wellington Nunes

Wellington Nunes
Como ensina a sabedoria popular: “em terra de cegos, quem tem um olho é rei”. O atual presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), ao que tudo indica, sabe disso. Explico.Como se sabe, Jair Bolsonaro chegou a presidência mobilizando dois tipos de narrativas durante a campanha eleitoral. A primeira e mais conhecida delas é aquilo que vem sendo chamado de “pauta conservadora em termos de costumes”: coisas como meninas vestem rosa e meninos, azul.O segundo tipo de narrativa foi construído em torno do que se convencionou chamar de “pauta liberal em economia”: que, grosso modo, significaria diminuir as ingerências do Estado na economia, abrindo mais espaço ao mercado.

A primeira dessas narrativas foi utilizada para mobilizar a militância, incluindo hordas raivosas de seguidores nas redes sociais. A segunda, para atrair os agentes do tal mercado – os donos do dinheiro grosso, ou, mais propriamente, seus comissários.

Pouco mais de um mês após o início oficial do governo, essas duas narrativas seguem em cena com os mesmos objetivos: manter a militância mobilizada (sobretudo a parte mais barulhenta) e a confiança do mercado, enquanto o governo trabalha.

De onde podem vir os problemas? Do contato das referidas narrativas com a realidade. Neste texto, vou me referir apenas à agenda econômica.

Como sabemos o recesso legislativo acabou na semana passada, com deputados e senadores assumindo (ou reassumindo) suas funções no dia primeiro de fevereiro – marcando, pra valer, o início do novo governo. Talvez seja cedo para dizer ao certo, mas parece que o contato com a realidade não fez muito bem aos humores dos tais mercados, levando a Bovespa a amargar a queda percentual mais expressiva (-3,74%) desde a crise do caminhonaço.

Ao que tudo indica, os donos da bufunfa descobriram (e já não era sem tempo) que as reformas pelas quais eles anseiam, na melhor das hipóteses, vão demorar mais tempo do que o esperado para serem realizadas. E isso não apenas em função dos necessários trâmites legislativos, mas também e principalmente porque o governo, a julgar pela minuta “vazada” no início da semana, não sabe ainda que tipo de proposta de reforma da previdência será enviada ao Congresso. Adicionalmente, o governo dá mostras de que também não sabe que tipo de estratégia de articulação será utilizada para construir o necessário apoio dos congressistas.

E a “velha política”?

Rodrigo Maia, deputado federal desde 1999 e ocupando pela segunda vez o cargo de presidente da Câmara, é visto por muitos como um legítimo representante da tal “velha política”. Sem entrar no mérito da pendenga, o fato é que – talvez por conta de sua larga experiência política – Maia percebeu (mais cedo) que poderia tirar proveito do despreparo de um governo carente de experiência administrativa e que, por isso mesmo, anda por aí a ostentar indefinições e desencontros internos, e a dar trombadas e esbarrões quando se move.

Como o poder é um espaço que não fica vazio e não aceita desaforos, Maia, assim que foi reeleito presidente da Câmara dos Deputados, começou a dar as cartas: à intenção do governo de levar a reforma da previdência direto ao plenário da Câmara, sem passar pelas comissões de praxe, respondeu que o projeto é complexo demais para ser discutido apressadamente; à declaração de Eduardo Bolsonaro (PSL) de que a votação do “pacote anticrime” proposto pelo Ministro da Justiça, Sergio Moro, poderia ser uma espécie de termômetro para a votação da previdência, respondeu que a prioridade é a reforma da previdência; por fim, disse que depois que o governo entregar à Câmara um projeto de reforma, a responsabilidade por sua tramitação passa a ser dele (Maia).

Como se percebe, Rodrigo Maia está disposto a valer-se das prerrogativas legais de seu cargo e de sua experiência política para ocupar o vácuo de poder deixado (por enquanto) pelo despreparo e pela falta de articulação do novo governo. Se obtiver êxito – isto é, se conseguir assumir o papel de fiador da agenda econômica – será forçoso reconhecer (não sem alguma ironia) que a “velha política” terá salvado o governo Bolsonaro, livrando-o do fracasso (naufrágio da agenda econômica).

Sobre Francisco Carlos Somavilla 1530 Artigos
Bacharel em Ciência Politica. MBA em Comunicação Eleitoral e Marketing Político. Especialização em Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável.

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