Por que a Extrema Direita odeia Dino? Por Marcos Guimarães*

Um fato óbvio nos escapa à análise: por que não houve tanta resistência, por parte da Extrema Direita, a Zanin quanto está existindo a Dino, para ocupar um cargo no Supremo Tribunal Federal? Seria meramente por uma questão de ordem política? Mas ambos candidatos, Zanin e Dino, não estavam profundamente identificados ao presidente Lula por motivos de ordem política?

A questão parece simples, mas não é.

Para entendermos a repulsa da Extrema Direita por Dino é necessário compreendermos a psicologia da Extrema Direita: primeiro, porque Dino não a teme e o medo é a principal forma de fazer política da Extrema Direita. Segundo, porque além de não temer a Extrema Direita, Dino a humilhou publicamente em seguidas audiências públicas no Congresso Nacional. E o terceiro elemento que motiva o ódio ao ex magistrado e atual Ministro é que, ao contrário de Zanin, com perfil mais elitizado, Dino é um símbolo popular de resistência.

Outro fator de repulsa, além dos elencados, é que Dino convence, é didático em seus exemplos, se fazendo entender pelo homem comum.

Nada causa mais horror à Extrema Direita do que um pensamento ordenado com calma, racionalizado, que compara situações e não se intimida: é a vitória da razão sobre o caos.

Por isso a Extrema Direita grunhe a toda hora, mostrando seus dentes para tirar a atenção do opositor.

A Extrema Direita atua na desorganização do pensamento, no caos. Mas Dino é o cara que entra no “canil” e calmamente explica seus motivos, sem ficar apavorado com o latido dos cães raivosos.

Não é com eles que fala, é para a platéia. Isto causa ainda mais raiva e mais raivosos perdem a compostura, desestabilizando-se, em efeito reverso.

Bolsonaro emitiu sua opinião sobre Dino e isto explica o comportamento da matilha: “Dino pensa que é Deus!”. É assim que a arrogância da Extrema Direita entende um homem que pensa, que mantém o controle diante de ameaças, que não se deixa levar pelo desespero diante de constantes ataques absurdos: como uma afronta. “Quem ele pensa que é, para não nos temer? É melhor do que nós, nos expõe em nossa insignificância, por isso deve ser destruído. E se todos seguirem o seu exemplo?”

A ascensão de Dino ao Supremo, para o pensamento da Extrema Direita, significa um símbolo de que se pode vencer o medo com argumentos, com a razão.

Por outro lado, Dino é um “outro Lula” que chegou lá, que representa não só a sabedoria acadêmica, mas também a popular.

Além disso é um homem ao qual não podem repentinamente imputar pejorativos como paulatinamente fizeram, durante décadas, tentando desconstruir a imagem de Lula: ladrão, alcoólatra, bêbado, ignorante. Dino os pegou despreparados.

Não esperavam em tão curto espaço de tempo que um homem só os emparedasse. Não que não tenham tentado, de todas as formas, atingir a imagem de Dino associando-a ao narcotráfico.

A estratégia foi essa, desde o princípio, quando perceberam a ameaça que Dino representava, e contou com os esforços até das Mídias Convencionais, porque a construção do ataque foi planejado pelas forças conservadoras de amplo espectro.

Apostaram tão alto e é tão importante para ela, Extrema Direita, tentar desconstruir o símbolo carregado de significado popular, que arriscaram até mesmo suas reputações. E não que já não houvessem arriscado antes na tentativa da fabricação de um equivalente a Dino, do lado oposto, que seria Moro, com aquela história mal contada de uma suposta trama do PCC para realizar um atentado contra o ex-juiz e ex- Ministro de Bolsonaro. Compreendem a afinidade do tema? É o mesmo por que é de mesma origem: associar a esquerda ao narcotráfico, a construção de uma narrativa que tentaram utilizar também com relação a Dino.

A mesma que utilizaram quando da visita de Dino ao Complexo da Maré. A mesma da mulher do traficante que foi enviada pelo governo bolsonarista do Amazonas para visitar o Ministério da Justiça.

Mas que fim levou o suposto ataque do PCC a Moro? Qual o desenrolar das investigações? Uma história sem pé nem cabeça que não colou, porque se houvesse “colado”, a estariam repetindo ad nauseam.

Foram obrigados a construir mais factoides na esperança de falsear a realidade: já não é mais simplesmente a suposta luta contra a corrupção, como antes, até porque estão até o pescoço envolvidos com o que dizem combater. Mas falharam miseravelmente em encontrar um Dino às avessas.

E acrescente-se outro fator importante: Dino, ao contrário dos demais Ministros, não entra pela porta do Supremo como um aliado de forças conjunturais do “establishment”, mas, através de Lula, diretamente alçado pelo povo, tendo se sujeitado também às urnas, ao peso do voto, tendo sido julgado por ele.

Intuitivamente para a Extrema Direita, um antípoda, porque para ela, Extrema Direita, tribunais não são para ser ocupados por representantes do povo, mas por aliados das elites. E um cargo no Supremo significa uma proteção do Poder Popular no coração do Sistema.

É importante entendermos isso numa leitura primária de luta de classes. Como os nossos exemplos de construção popular afetam diretamente nossos inimigos e a simples ascensão deles impõe derrotas vexatórias em suas tropas extremistas.

Agora, é necessário que o Poder Popular defenda uma candidatura do povo ao Supremo, porque a Extrema Direita fará de todo possível para barrá-la.

A Extrema Direita odeia Dino e tem seus motivos para isso: significa, para os fascistas, mais uma humilhação e uma derrota em nível nacional.

*Marcos H. Guimarães é jornalista, escritor, membro do Coletivo de Cultura Estrela da Encruzilhada do deputado Dr. Antenor.

Sobre Francisco Carlos Somavilla 1528 Artigos
Bacharel em Ciência Politica. MBA em Comunicação Eleitoral e Marketing Político. Especialização em Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável.

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