Nos dentes da traíra, por João Vicente Goulart

Nos idos anos do exílio costumava, nas férias, passar alguns dias na beira do dos rios uruguaios com colegas de colégio pescando à beira do Rio Negro ou Rio Tacuarembó, ambos piscosos e com muito fogo de chão nos acampamentos que montávamos naquelas margens solitárias.

Traíras e bagres grandes eram muito frequentados nos nossos espinhéis. Mas, as traíras, especialmente, eram vorazes e qualquer isca de animal, carne de ovelha ou gado, ou aves, pombas, perdizes, etc. eram eficazes para a sua captura, especialmente iscas com sangue quente faziam a festa daqueles peixes e da turma de rapazes pescadores. Mas tínhamos que cuidar muito os nossos dedos para retirar os anzóis da boca da traíra, pois é um animal de dentes afiadíssimos e que, qualquer descuido com esse bicho que se faz de morto, em uma mordida, pode acabar com a festa decapitando a esperança de permanecer nela.

Não sei por que, lendo hoje o Correio Braziliense, na coluna de Vicente Nunes, “BB e Caixa na mira de Temer”, me lembrei daquelas andanças e dos dentes da traíra.

O artigo é de viés econômico, sobre a baixa dos juros pelos bancos oficiais, mas com uma clara intenção de mirar a eleição de 2018, ou seja, a reeleição de Temer, sobre a qual não esconde sua empolgação, mostrando os dentes de sua infinita pretensão.

Diz o artigo que: “A vontade de pavimentar a candidatura em 2018 é tamanha que Temer já pediu aos presidentes de bancos públicos, mais precisamente aos comandantes do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, que apresentem estudos para um possível movimento de baixa das taxas de juros cobradas nas operações de crédito. A ordem é agradar o grande público…”

O bicho realmente se faz de morto mas tem um apetite voraz.

No artigo, que mostra pela primeira vez a intenção de Temer, nada fala sobre a opinião dos “aliados”, principalmente do PSDB que navega nesse barco.

Como os tucanos tem um bico longo e geralmente são meio desequilibrados para tomar agua na beira dos rios, não sei por que, mas veio-me à mente a imagem desses pássaros tomando agua em um remanso, onde as traíras costumam desovar seus ovos e, famintas, não costumam perder a oportunidade dessas iguarias.

Realmente, elas têm dentes afiados e não costumam trair suas índoles, principalmente com pássaros desajeitados.
João Vicente Goulart
Diretor IPG-Instituto João Goulart
OBS: Texto e imagem reproduzidos na íntegra.

Sobre Francisco Carlos Somavilla 1530 Artigos
Bacharel em Ciência Politica. MBA em Comunicação Eleitoral e Marketing Político. Especialização em Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável.

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