Eleições 2024: Fortalecer o PT para ‘libertar’ Lula do Centrão: Por Milton Alves*

As eleições municipais de 2024 acontecerão em um cenário ainda marcado pela polarização política, com a tentativa de rearticulação da extrema direita e, ao mesmo tempo, as dificuldades do governo Lula em superar os obstáculos na Câmara de Deputados para garantir as promessas populares feitas durante a campanha presidencial de 2022.

As eleições municipais também incidem fortemente na acumulação de forças para o pleito eleitoral de 2026. Neste sentido, é inegável o traço nacionalizado da atual disputa eleitoral, principalmente nas capitais e regiões metropolitanas.

Resolução do Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) indica, com clareza, os desafios políticos postos nas eleições municipais vindouras. Diz o texto: “Somos um partido nacional, temos um projeto para o país, com desafios que envolvem o conjunto do Estado brasileiro e elegemos Lula para a Presidência da República nas eleições mais adversas da nossa história. As eleições municipais de 2024 acontecerão nesse contexto histórico, em que precisamos fortalecer o PT e a esquerda brasileira, consolidar uma forte Frente Democrática e Popular no país para implementar nosso Programa de Reconstrução e Transformação do Brasil, com políticas estruturantes e transformadoras nos municípios brasileiros”.

Neste sentido, é essencial a construção de um projeto político e eleitoral que tenha como escopo a continuidade do governo democrático e popular representado pelo Presidente Lula e pelo PT, vitorioso nas urnas em 2022. “É fundamental, neste processo eleitoral de 2024, estimular candidaturas próprias do PT, bem como a construção de alianças partidárias com o campo democrático e popular, cujo centro tático é a defesa do projeto democrático popular e do governo Lula. O PT, como o maior partido de sustentação desse projeto estratégico para o povo brasileiro, deve liderar esse processo de construção”, orienta a resolução partidária.

O PT, no curso da batalha eleitoral, deve apresentar para o eleitorado uma agenda antineoliberal, apontando a ligação entre os problemas locais com as questões nacionais que entravam e sufocam o desenvolvimento dos municípios: a herança da EC 95 – teto dos gastos, as privatizações e as precarizações dos serviços públicos, as demandas por mais investimentos no SUS, priorizando os territórios periféricos; a garantia da manutenção dos Fundos, como o Fundeb – financiamento do ensino básico e creches -; o Fundo de Participação dos Municípios (FPM); implementar o Orçamento Participativo, com a participação popular; a adoção gradual da tarifa zero nos transportes e a criação de frotas públicas nas capitais e regiões metropolitanas; entre outras demandas de inclusão e desenvolvimento econômico. Ou seja, humanizar e democratizar a vida nas cidades.

O presidente Lula, na Conferência Eleitoral do PT realizada no mês de dezembro de 2023, avaliou que “a disputa eleitoral [eleições municipais] deverá repetir uma polarização ideológica similar a que ocorreu nas eleições de 2022. A gente vai ter que mostrar que nós queremos exercitar a democracia, vamos fazer as eleições mais competitivas possíveis, mas a gente não vai ter medo de ninguém”, afirmou.

Lula lembrou ainda da necessidade de que o partido volte a ser um pouco como era no começo, “para reconquistar credibilidade”, pedindo “a retomada de um trabalho de base diretamente nas comunidades, ouvindo o povo, os trabalhadores”.

PT em Curitiba: candidatura própria em construção

Na sexta-feira (16), a militância petista de Curitiba, que defende a candidatura própria do PT para a prefeitura, realizou plenária para discutir a questão, e como fazer uma campanha para sensibilizar o conjunto do partido na defesa de uma candidatura própria nas eleições municipais.

No momento, a legenda realiza um intenso debate interno entre lançar uma candidatura própria ou apoiar a candidatura do deputado federal Luciano Ducci (PSB), uma alternativa que desagrada amplos setores do partido e dos movimentos sociais na capital.

A trajetória de Luciano Ducci, que foi vice-prefeito de Beto Richa (PSDB) e assumiu por um período o mandato na prefeitura de Curitiba, sendo derrotado pela aliança entre Gustavo Fruet (PDT) e o PT em 2012, é bastante contraditória com as posições do PT. Ducci apoiou o impeachment da presidenta Dilma Rousseff e a criminosa operação Lava Jato, votou sistematicamente em todos os projetos de privatizações e de retirada de direitos dos trabalhadores durante os governos de Temer e Bolsonaro, e recentemente votou até no Marco Temporal.

Para complicar o cenário, o PSB, partido presidido por Ducci no Paraná, integra a base de sustentação do governo de Ratinho Jr, aliado de Bolsonaro, e mantém cargos na gestão do atual prefeito de Curitiba, Rafael Greca.

Portanto, é natural a resistência das bases petistas ao nome de Luciano Ducci. A militância petista de Curitiba sustentou por quase dois anos um duro e duplo combate contra o Lavajatismo e o bolsonarismo. Essa militância foi a responsável por um movimento inédito, a Vigília Lula Livre, por 580 dias, em defesa da liberdade de Lula. A candidatura própria é tributária dessa mobilização, da campanha pela liberdade do companheiro presidente Lula.

O PT de Curitiba apresenta uma fase de crescimento e de renovação de quadros, no último período. Nas eleições de 2022, elegeu como uma das deputadas federais mais votadas de Curitiba para Câmara de Deputados, a professora da rede pública Carol Dartora, a primeira mulher negra a conquistar um mandato no estado do Paraná.

Para a Assembleia Legislativa, com significativas votações na capital, elegeu Renato Freitas, hoje uma liderança negra e popular de projeção nacional, a jovem Ana Júlia e Maurício Requião. Para a Câmara de Deputados, elegeu Tadeu Veneri, que foi o candidato do PT nas eleições de 2016 e reelegeu o deputado Zeca Dirceu, que formalizou a pré-candidatura para a prefeitura de Curitiba — que ao lado de Carol Dartora e do advogado Felipe Magal Mongruel, são os três pré-candidatos do PT.

As tendências internas do PT – Militância Socialista, Democracia Socialista, Articulação de Esquerda, O Trabalho, Base e Luta, e segmentos da tendência Construindo um Novo Brasil (CNB), com Zeca Dirceu e Felipe Magal Mongruel, que são pré-candidatos, além de centenas de militantes e ativistas sem atuação nas correntes, defendem o lançamento de uma candidatura petista em Curitiba.

Ato na segunda em defesa da candidatura própria do PT

Na segunda-feira (19), no Sindicato dos Bancários, com a presença dos três pré-candidatos – deputado federal Zeca Dirceu, da deputada federal Carol Dartora e do advogado e militante Felipe Magal -, das vereadoras Professora Josete e Giórgia Prates, dos deputados estaduais Renato Freitas e Requião Filho, do deputado federal Tadeu Veneri, do ex-governador e senador Roberto Requião e de lideranças sindicais e de movimentos sociais será realizado um ato pela candidatura própria do PT para a prefeitura de Curitiba.

O ex-deputado federal e ex-presidente do PT-PR, Dr. Rosinha, defende uma campanha pública nas ruas e nas redes sociais pela candidatura própria. Um abaixo-assinado já foi organizado pela militância em defesa da candidatura própria.

Segundo o calendário definido pelo Diretório Municipal do PT, o Encontro Municipal para escolha dos candidatos – chapa de vereadores e o candidato ao cargo de prefeito – será realizado no dia 06 de abril.

*É jornalista e escritor. Colabora em diversas mídias progressistas e de esquerda. É o autor dos livros ‘A Política Além da Notícia e a Guerra Declarada Contra Lula e o PT’ (2019), ‘A Saída é pela Esquerda’ (2020), ‘Lava Jato, uma conspiração contra o Brasil’ (2021) e de ‘Brasil Sem Máscara – o governo Bolsonaro e a destruição do país‘ (2022) — todos pela Kotter Editorial. É militante do Partido dos Trabalhadores (PT), em Curitiba. Faz Pós-graduação em Ciência Política.

 

Sobre Francisco Carlos Somavilla 1528 Artigos
Bacharel em Ciência Politica. MBA em Comunicação Eleitoral e Marketing Político. Especialização em Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável.

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