Pinhais: “Olhar e Pensar a Cidade”; por Irene Grockotzki*

A professora Irene Grockotzki,  com a coluna “Olhar e Pensar a Cidade” é a nova colaboradora do blog e trará comentários sobre o município de Pinhais e demais municípios da Região Metropolitana de Curitiba. Como forma de despertar novas idéias e propostas que visem a qualidade de vida da população, a professora sugere discussões de forma organizada e objetivas sobre as cidades onde vivemos.

Agradecemos o atendimento ao convite. Seja bem vinda Professora Irene!

Leia a entrevista de lançamento da coluna “Olhar e Pensar a Cidade”:

1 – Nos últimos anos Pinhais passou por significativo desenvolvimento econômico com instalação de empresas, expansionismo imobiliário e na mobilidade urbana com abertura de vias públicas. Que análise você faz sobre estas questões?

Pinhais ainda como distrito de Piraquara, já era área industrial e não seria diferente depois da emancipação. Mas por ser área de manancial, com muitas nascentes e cercada de rios, deveria ter sido planejado um desenvolvimento realmente sustentável e não foi isso que na prática aconteceu.  As gestões públicas municipais quando ainda era Piraquara e as primeiras após sua emancipação, não tiveram um olhar para a organização do espaço e a cidade foi se desenvolvendo sem muito critério nesse sentido. A gestão municipal passada, viveu sob o discurso da sustentabilidade apenas no discurso, embora que de forma um pouco mais organizada, foram sendo ocupados todos os espaços possíveis com edificações sem respeito ao meio ambiente e nem às pessoas que aqui já moravam, e que agora sofrem com os impactos como poluição do ar, sonora e visual.

O expansionismo imobiliário tem como objetivo gerar lucros fáceis a alguns grupos ligados a construção civil e à prefeitura, pois o adensamento populacional não é progresso e sim uma forma de construtoras lucrarem com a venda de seus imóveis e a prefeitura com a cobrança de impostos da população.

A abertura de novas vias públicas visa atender as instalações industriais e aos empreendimentos imobiliários e muitas vias tornaram-se perigosas parta a circulação de pedestres e ciclistas e com o aumento populacional e consequentemente número maior de automóveis e caminhões aparecem dificuldades na convivência nesse espaço.

Uma das coisas que faz falta na mobilidade urbana, e isso se ouve conversando com a população e a falta de uma linha de ônibus ligando os bairros sem passar pelo terminal. Na minha opinião, isso ajudaria na integração da cidade e das pessoas, pois as mesmas usufruiriam mais das potencialidades de cada bairro.

2 – Sobre a possibilidade de construção de prédios residenciais na região do Jardim Karla com vista para a Serra do Mar. Qual a sua opinião?

Observando a região leste da cidade e isso envolve a região do Jardim Karla, nota-se a ocupação de forma intensa de um dos últimos redutos de mata e nascentes de água de Pinhais. Vejo com certa tristeza a derrubada de mata e de árvores adultas como a Araucárias, que vão dando espaço a construções de vias e muros em preparação de extensas áreas para urbanização, degradando assim o meio ambiente, o qual manifestará no futuro problemas relacionados à qualidade do ar e da água com o aumento da poluição e o desaparecimento de nascentes.

3 – Sobre a possibilidade de verticalização na região central de Pinhais, o que você teria a dizer?

Não concordo com adensamento urbano e populacional, sejam construções verticais ou horizontais, pois ambas degradam o meio ambiente e a qualidade de vida. Na minha opinião, as construções deveriam ter no máximo 3 andares e grandes espaços livres para bosque, pomar, horta e jardim e de preferência sem muros para possibilitar a integração entre as pessoas e comunidades.

4 – Em sua opinião, qual o caminho que Pinhais deverá percorrer doravante: Continuar com políticas expansionistas ( novos projetos residenciais e empresariais)  ou definir políticas públicas que ofereçam garantias de qualidade de vida à sua população de modo geral?

Pinhais poderia  ter sido uma cidade inovadora, criativa e com qualidade de vida para toda a população,  se o planejamento sustentável como se apregoava pela administração pública há alguns anos fosse sério e não apenas palavras de marketing político e se sua urbanização ou reurbanização fosse discutida com a população.  Mas ainda é tempo de encarar essa questão de maneira saudável se houver gestores municipais e empresários que pensem na vida como um todo e não apenas no lucro fácil e projetos que atendam apenas interesses pessoais. Para uma cidade onde pulse a vida, o planejamento urbano precisa estar voltado para as pessoas e não apenas para as empresas. O desenvolvimento, a organização da cidade, precisa ser realmente discutido com a população, buscando com isso a integração e não a segregação como já se vislumbra ao observarmos vários muros surgindo e separando grupos de pessoas e comunidades. E atualmente, as redes sociais são um ótimo canal para que essa discussão ocorra, mas observa-se que as administrações municipais, ainda não perceberam isso e fecham os canais de comunicação impedindo que as pessoas coloquem suas ideias e opiniões em debate.

Para a qualidade de vida da população em geral, deve-se ter também o cuidado na ocupação dos espaços, a observação de valores imateriais, ou seja, os sentimentos das pessoas precisam ser respeitados. Sentimentos esses que muitas vezes não se encaixam nesse mundo apenas material, onde um espaço natural, ou um espaço de moradia cuidado por anos por uma pessoa ou família é esvaziado e enche-se em poucos dias com concreto, asfalto e ferro, modificando totalmente uma paisagem e impactando a vida das pessoas que ali moram há muitos anos sem as mesmas serem comunicadas dos transtornos aos quais elas terão que se adaptar e em alguns casos até sair do lugar onde moravam.

Outra questão para garantir a qualidade de vida é pensar e colocar em prática espaços públicos de integração nas comunidades com todo suporte físico e humano proporcionando para as pessoas de todas as idades o acesso a atividades culturais, empreendedoras e recreativas, onde as mesmas possam desenvolver suas habilidades. Atualmente algumas vilas até tem espaço físico, mas falta a prefeitura ou empresas da região, pagarem profissionais para atuarem nesses espaços como orientadores, facilitadores e isso é investir nas pessoas, na qualidade de vida da cidade que mais do que de construções visando o adensamento urbano e populacional, precisa investir em humanidade.

Enfim, os projetos expansionistas futuros, precisam pensar a cidade como um ente vivo. Os empresários e administradores municipais precisam ter em mente em primeiro lugar as pessoas, ou seja, de que forma um determinado empreendimento pode proporcionar qualidade de vida, bem estar às pessoas, as comunidades no seu entorno e não apenas nos lucros que ele possa trazer para determinada empresa, pessoa ou administração pública.

*Irene Grockotzki

Formada em Geografia pela UFPR

Moradora em Pinhais desde 1989

Professora de Geografia em Escolas Públicas Estaduais desde 1991 em Pinhais.

Agradeço ao Chicão Somavilla pelo convite a colaborar com o seu blog e espero contribuir com algumas reflexões e conversas sobre o tema cidades. Vivemos em cidades e muitas vezes nem olhamos para elas ou nem nos damos conta como elas se organizam ou poderiam se organizar para que a vida em seus espaços seja cada vez melhor, menos caótica e mais humana.  Que este espaço “OLHAR  E PENSAR a CIDADE”, aqui no blog, desperte novos olhares sobre os lugares onde moramos e que das conversas, críticas e sugestões, surjam novas ideias para a vida na cidade.

 

Sobre Francisco Carlos Somavilla 1526 Artigos
Bacharel em Ciência Politica. MBA em Comunicação Eleitoral e Marketing Político. Especialização em Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável.

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